Adoro um blog chamado: Don't touch my moleskine.

Adorei o texto e comentário de uma leitora abaixo e quero reproduzi-lo, acho que todo mundo já sentiu isso alguma vez na vida. Me identifiquei bastante:

Ex-amigo

Amigo é uma coisa que a gente perde ao longo da vida. Encontramos vários, nos apegamos a alguns e, a certa altura, somos forçados a colocar o prefixo ex antes do nome daquele que enchia nosso coração de carinho e de certeza.

Perder um amigo para a vida, e não por uma fatalidade, é uma dor dilacerante. a gente pensa que amizade é pra sempre, que, quando a gente for velhinho e lembrar de tudo que aconteceu, estarão perto de nós aqueles que a gente escolheu como a família do coração.

Mas a vida tem dessas decepções. Uma hora é você que sai de cena. Em outra, a vontade é daquele que te dava toda certeza do mundo de que era ficaria ali no matter what.

A primeira vez em que eu tive que tornar um amigo ex-amigo, senti uma dor que acabou comigo. fiquei sem entender, chorei, chorei. Por um tempo, foi difícil acreditar de novo na beleza, na simplicidade e nas diversas nuances de uma amizade.

Optei por deixar a amargura de lado e seguir em frente, ainda com esperança de que aquela dor eu não sentiria mais. Novas amizades vieram, as que importavam de verdade permaneceram. E não senti aquela dor de novo, não daquele jeito. Mas outras dores apareceram pra mostrar que a vida é assim mesmo, por mais que a gente se pergunte se já não teve a nossa cota.

O bom é que dor ensina. E depois que a gente sente uma que parte o coração em mil pedacinhos, aprende a relativizar as outras.E, melhor ainda, renova o olhar diante dos amigos de sempre, aqueles por quem a gente sente todo o amor do mundo e em quem temos a sorte de encontrar reciprocidade.

Eu era um sujeito então perseguido pelas nostalgias. Sempre tinha sido, e não sabia como me livrar da saudade para viver tranqüilamente.

Ainda não aprendi. E desconfio que nunca vou aprender. Mas pelo menos já sei uma coisa valiosa: é impossível se livrar da memória. Você não pode se livrar daquilo que amou.

Isso tudo vai estar sempre com a gente. Sempre vamos desejar recuperar o lado bom da vida e esquecer e desnutrir a memória do lado mau. Apagar as perversidades que cometemos, desfazer as lembranças das pessoas que nos magoaram, eliminar as tristezas e as épocas de infelicidade.

É totalmente humano, então, ser um nostálgico, e a única solução é aprender a conviver com a saudade. Talvez, para a nossa sorte, a saudade possa se transformar, de uma coisa depressiva e triste, numa pequena faísca que nos impulsione para o novo, para nos entregar a outro amor, a outra cidade, a outro tempo, que talvez seja melhor ou pior, não importa, mas será diferente. E isso é o que todos procuramos todo dia: não desperdiçar a vida na solidão, encontrar alguém, entregar-nos um pouco, evitar a rotina, desfrutar a nossa parte da festa.

Eu ainda estava assim. Tirando todas essas conclusões. A loucura me rondava e eu escapulia. Tinha sido coisa demais em muito pouco tempo para uma pessoa só, e saí por dois meses se Havana.

Pedro Juan Gutiérrez em “Trilogia Suja de Havana”

Foto: minha em Belém- Portugal